quinta-feira, 30 de abril de 2015

Cronômetro

Botão pressionado
Cronômetro ligado
Do zero ao um
Do dois ao choro
Quem tem tempo?
Tenho pouco
Mas sempre arrumo
Quem tem tempo?
Talvez os outros
Mas não pra mim
Quem tem pressa?
Não tenho muita
Mas vendo a minha
Quem tem pressa?
O tempo anda
Voa sem asas
Corre sem pernas
Sempre em frente
E não se cansa
Quem tem tempo?
Pra me ler
Ou pra me ver
Botão pressionado
Cronômetro desligado
Do tudo ao zero
Do número ao nada
Quem tem pressa
Pra me esquecer?


quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Nosoutros

Eu estou com fome
Nós estamos de regime
Eu quero viajar
Mas nós não temos dinheiro

Eu quero ler meus livros
Nunca desligamos a televisão
Preciso de silêncio
Mas nós fazemos muito barulho

Eu sinto falta de pouca coisa
Mas nós nunca temos o suficiente
Fico mais triste a cada dia
Talvez não resistamos 

As vezes tudo que eu quero é sair
Mas nós temos que ficar
Decido então ir sozinho
E nós deixamos de existir
No plural

terça-feira, 25 de novembro de 2014

labirinto 2

As grades do berço
O poço de álcool
A caixa feita de pixels
A jaula de som

A torre do sino
A biblioteca de pedra
O pomar alucinógeno
A sala acolchoada do manicômio-coração

A senha do cofre
O calabouço da família
O maquinário do hospital
E ao final
A solitária de madeira sob o chão

Toda saída leva a um novo cárcere
Neste labirinto de prisões
Onde liberdade ou independência
Nunca passam de ilusão

O plural é singular

Eu quero comer
Nós estamos de regime
Eu quero viajar
Mas nós não temos dinheiro

Eu gosto de ler
Nunca desligamos a televisão
Preciso de silêncio
Mas fazemos muito barulho

Eu sinto falta de pouca coisa
Nós nunca temos o suficiente
Me mais triste a cada dia
Talvez não resistamos no plural

As vezes tudo que eu quero é sair
Mas nós temos que ficar
Decido então ir sozinho
E nós deixamos de existir

O Monstrô

Marchamos diariamente
Às catacumbas
Do deus Serpente

Uma procissão
Silenciosa e ritmada
de passos lentos
De uma multidão
Mais de mil detentos

Como sonâmbulos
Deslizamos 
Cada vez mais fundo
Para o centro do mundo

Pagamos o dízimo
Desviamos de seus seus dentes
E nos amontoamos como insetos 
Dentro de seu ventre

Ele brinca com nossa auto estima
E depois nos cospe para cima
O que sobra é pó, é casca
É osso
E entorpecimento
É nada

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Outono

Conheci uma garota
Que experimentava cabelos de todas as cores
E com o tempo passei a ama-la
Com todas as forças 

No luxo de um beco
Choramos de alegria
Lembramos a preciosidade
De nossa sintonia

Ela via como asas de um anjo
Detalhes que os demais enxergavam como sátiro
Uma beleza que nem existia

Escancarando as portas do meu mundo
Assustei-a com o que havia escondido no fundo
Ela começou a duvidar
Se devia me amar

Condenado e exilado
Agora luto com o teclado
Tentando salvar em palavras
A cega dor de um rio de lagrimas

quinta-feira, 4 de julho de 2013

O Labirinto

As grades do berço
O poço de álcool
As caixas de pixels
A jaula de som

A torre do sino
A biblioteca sem teto
O pomar alucinógeno
A sala acolchoada do manicômio-coração

O cofre de metal
O calabouço da família
O maquinário do hospital
E finalmente a solitária de madeira sob o chão

Cada saída leva a um novo cárcere
Neste labirinto de prisões
Onde liberdade ou independência
Nunca passam de ilusão